Polícia prende responsável por casa de repouso suspeito de maus-tratos a idosos; local tinha fezes de rato e carne estragada
29/05/2025
(Foto: Reprodução) Daniel Júlio Gomes, de 42 anos, responde a pelo menos quatro processos na Justiça. Em entrevista, ele negou acusações. Presidente de casa de repouso, em Contagem, está preso
A polícia prendeu o responsável pela casa de repouso Lar Vovó Maris, local denunciado por maus-tratos a idosos em Contagem, na Grande BH. Vistoria feita no local pela Vigilância Sanitária, pela Secretaria de Saúde municipal e pela Polícia Civil na quarta-feira (28) encontrou carne estragada na cozinha, fezes de rato nos quartos e paredes mofadas.
Daniel Júlio Gomes, de 42 anos, recebeu voz de prisão na quarta e foi encaminhado para Centro de Remanejamento (Ceresp) Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte, na manhã desta quinta-feira (29). Ele foi ouvido e preso em flagrante. Além dos maus-tratos, ele é acusado de apropriação indébita por estar com o cartão de benefício social de um idoso, segundo uma denúncia.
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O homem responde a pelo menos quatro processos na Justiça, relacionados a maus-tratos, crime previsto no Estatuto do Idoso e a uma tutela inibitória — medida judicial que visa impedir a continuidade de condutas irregulares na residência.
O caso foi denunciado pelo g1 e pela TV Globo na última terça-feira (27). Em entrevista à TV Globo na quarta, Gomes negou as acusações. "É inverídico, não tem maus-tratos aqui. A única ocasião foi uma funcionária que gritou com um idoso, mas ela foi demitida. No momento estávamos fazendo adequação e reformas", afirmou.
Ao todo, segundo a Prefeitura de Contagem, 30 idosos foram resgatados da casa. Desse grupo, 5 foram entregues às famílias, 4 foram para o CAPS do Eldorado, 17 foram encaminhados à UPA para atendimento médico e 4 foram para outra instituição de longa permanência.
A polícia ainda investiga, paralelamente, a morte de dois idosos nas dependências da casa, em janeiro e maio deste ano. Nos últimos seis meses, cinco ocorrências policiais foram registradas contra o estabelecimento, denunciando os possíveis maus-tratos.
Daniel Júlio Gomes, dono da casa de repouso suspeita de maus-tratos na Grande BH.
TV Globo
Fiscalização e maus-tratos
A fiscalização realizada por equipes da Vigilância Sanitária, da Secretaria de Saúde de Contagem e da Polícia Civil mostrou um cenário alarmante na Casa Vovó Maris.
Além dos alimentos estragados, fezes de ratos e mofo, o local apresentava esgoto a céu aberto, fiação exposta e forte odor de urina e fezes. A estrutura era improvisada e sem qualquer conforto. A denúncia que motivou a fiscalização partiu de uma idosa de 86 anos, que vive no local há nove meses. Ela relatou maus-tratos e negligência.
"Vai fazer nove meses que estou aqui. Eles dizem que o médico vem, mas nunca aparece", disse uma das vítimas, que preferiu não se identificar.
Surto de doenças e falta de alvará
A fiscalização também aponta um possível surto de leptospirose e escabiose (sarna). Três pessoas foram encaminhadas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA): uma com pressão alta, outra com feridas na pele e uma idosa com falta de ar.
A instituição não possuía alvará de funcionamento e já havia sido interditada em março deste ano, mas continuou funcionando. De acordo com Wilson Carvalho, superintendente de Vigilância Sanitária de Contagem, o local também responde a um processo administrativo.
“É fundamental que os familiares verifiquem se o local tem autorização para funcionar antes de encaminhar seus parentes.”
No espaço de limpeza foram encontradas diversas fezes de roedores
Reprodução/TV Globo
Mortes sob sinais de maus-tratos
Em duas ocasiões, idosos morreram dentro da instituição sob suspeita de negligência. O primeiro caso foi registrado em 13 de janeiro deste ano, quando o médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) acionou a polícia por sinais de maus-tratos contra o idoso identificado como Liberalino Cardoso e Morais.
Na época, a polícia constatou ambiente insalubre, com fezes e urina em vários locais, cheiro forte, umidade e mofo, além de falta de estrutura, com janelas quebradas, fiação exposta, esgoto aberto, alimentos impróprios.
A equipe também era considerada insuficiente — duas cuidadoras para mais de 30 idosos, sem plantão noturno. Na mesma ocasião, um idoso passou mal e foi socorrido.
Irregularidades apontadas pela Vigilância Sanitária na Casa Vovó Maris.
Reprodução
Morta com ferida na cabeça
O segundo caso foi registrado no último dia 6 de maio e foi revelado pelo g1 e pelo MG1 nesta terça-feira (26).
Na ocasião, a polícia também foi acionada pela médica do Samu. Ela denunciou que havia sinais de um possível ferimento na testa da paciente, e divergências entre os funcionários a respeito da data da queda e o que teria provocado o trauma.
A profissional se recusou a emitir atestado de óbito, encaminhou o caso ao Instituto Médico Legal (IML) e citou possível omissão de socorro.
Irregularidades constatadas pela Vigilância Sanitária na casa Vovó Maris.
Reprodução
Outras denúncias
As demais denúncias foram registradas em novembro de 2024 e em fevereiro e abril deste ano. Nas ocasiões, a polícia não encontrou irregularidades.
Em março, entretanto, relatórios fotográficos da Vigilância Sanitária de Contagem evidenciaram problemas na ILPI Vovó Maris.
Entre os problemas identificados, estavam armazenamento inadequado de roupas e alimentos no mesmo ambiente, medicamentos sem prescrição misturados a materiais contaminados e carnes sem identificação de validade.
A infraestrutura apresentava pisos danificados, infiltrações, fiação exposta e banheiros em condições precárias, com barras de apoio soltas.
Além disso, foram registrados insetos, cupins em móveis, geladeiras sujas e medicamentos armazenados sem controle de temperatura, colocando em risco a saúde dos idosos.
Lar Vovó Maris, no bairro Eldorado, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Reprodução
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